Severino Araújo, presidente do PSB do Paraná
Terceira via na disputa presidencial, o governador de Pernambuco,
Eduardo Campos (PSB), deve priorizar o discurso de que a máquina
econômica do país está saindo dos trilhos – especialistas consideram a
economia o fator decisivo numa eleição para presidente. “Todo mundo está
enxergando que o país convive com esse perigo, apesar de eles [governo]
tentarem pregar que as coisas estão estabilizadas”, afirma Severino
Araújo, presidente do PSB do Paraná e um dos líderes da Executiva
Nacional do partido.
Segundo ele, o PSB, que apoiou a gestão Dilma Rousseff desde o
início, nunca foi uma simples sublegenda do governo, mas sim um partido
com o objetivo claro de chegar ao poder. Para atingir essa meta, diz
Severino, o comando nacional já distribuiu tarefas ao PSB de cada
estado: formar uma chapa competitiva para deputado federal, priorizar
Campos nas inserções partidárias na televisão e garantir um bom palanque
local – no Paraná, a prioridade é eleger o governador Beto Richa
(PSDB).
Sobre o risco de uma briga desenfreada entre Campos e o senador Aécio
Neves (PSDB) levar Dilma a vencer no 1.º turno, ele dá de ombros. “O PT
nunca ganhou uma eleição em primeiro turno e não há nenhum elemento que
prove que a situação deles melhorou.”
Como está a organização da campanha presidencial?
O Eduardo [Campos] ainda não lançou oficialmente a candidatura.
Portanto, tem esse detalhe: ele ainda precisa colocar ao público o nome
dele como candidato. Mas a direção nacional já distribuiu a cada estado a
primeira tarefa de montar boas chapas de deputado federal, para
aumentar a nossa bancada no Congresso. Além disso, os estados devem
propiciar a presença do Eduardo na mídia partidária. Aqui no Paraná, por
exemplo, ele ocupou todo o espaço do PSB no segundo semestre de 2013 e
vai ser assim no começo deste ano. E, ao mesmo tempo, é preciso
trabalhar candidaturas a governador onde houver condições. Onde nossos
nomes não tiverem densidade eleitoral, devemos apresentar uma
alternativa para suprir essa deficiência.
E qual é o cenário do Paraná?
É claro que dependemos da aprovação dos diretórios nacionais dos dois
partidos, mas aqui acompanharemos a reeleição do governador Beto Richa.
Eu, particularmente, não vejo complexidade nisso. Já passamos sem
problemas por palanque duplo em 1994, quando o Jaime Lerner [então
candidato ao Palácio Iguaçu] subiu nos palanques do Leonel Brizola e do
FHC. Mesmo porque a opção pelo palanque duplo se dá para que o candidato
a governador tenha densidade para ajudar o candidato a presidente. O
Eduardo está bem colocado nas pesquisas no Paraná e lançar um nome aqui
sem densidade eleitoral [para governador] pode puxá-lo para baixo em
vez de ajudar.
E se o senador Aécio Neves vetar o palanque duplo nos estados, que caminho poderá tomar o PSB no Paraná?
Não quero responder sobre hipóteses. Mas, se isso ocorrer, cria-se outro cenário. E só podemos discuti-lo quando ele acontecer.
Como o partido tem trabalhado para contornar divergências entre o Campos e a Marina Silva?
Não existe crise nem atrito. Essa é uma interpretação que alguns
fazem. Do ponto de vista eleitoral, a Marina fez a opção de filiar-se ao
PSB e é evidente que nós já tínhamos delineado posições para as
eleições de 2014 na maioria dos estados. Ela mesma estava ciente disso.
Mas isso não quer dizer que haja divergências. No momento de definições,
a direção nacional vai dizer qual o caminho em cada estado.
Já é definitiva a posição de que o Campos será o candidato a presidente e a Marina, vice?
O candidato a presidente é Eduardo Campos e a Marina sabe disso.
Tanto que, quando ela fez a opção de vir para o PSB, disse que a
presença dela no partido era provisória e que vinha se somar ao projeto
que já existia. Mas o partido tem estrutura em todo o país e cada
dirigente tem o direito de emitir sua opinião pessoal. Alguns defendem a
tese de ela ser vice, outros ainda não têm posição ou pelo menos não a
externaram. Portanto, ainda não há clareza de ela ser vice ou não.
Com quase todos os partidos previamente aliados ao PT, como o PSB tem buscado alianças?
O PPS está fechado conosco. Fora isso, não estou enxergando que
haverá adesão de outros partidos. É óbvio que outras adesões são
bem-vindas, mas o PSB não pode ficar esperando a decisão dos outros.
Temos de construir a nossa candidatura.
Mas com um único partido aliado e com o desafio de tornar o
Campos um nome conhecido, de que forma a candidatura do PSB pretende se
tornar competitiva?
Temos de ser criativos. Mas, a partir das convenções partidárias [em
junho], não vai ficar candidato sem ser conhecido. É óbvio que o espaço
entre a convenção e a campanha será curto, mas o Eduardo tem
desenvoltura e vai mostrar à opinião pública que é a melhor opção. O
tempo de televisão, por exemplo, é muito importante, mas não é tudo. Em
Curitiba, tínhamos o maior tempo em 2012 [com Luciano Ducci] e perdemos.
E a excelente avaliação dele no governo de Pernambuco vai servir para
estancar qualquer tentativa de desconstruir a imagem dele.
Não há o risco de o Campos e o Aécio “canibalizarem” a oposição e abrirem margem para uma vitória de Dilma no 1.º turno?
O PT nunca ganhou uma eleição em primeiro turno e não há nenhum
elemento que prove que a situação deles melhorou. Sem contar que antes
eles tinham um nome [Lula] que conseguia transferir votos, o que não vão
conseguir agora. É um engano acreditar nisso [a vitória da Dilma no 1.º
turno].
Qual deve ser o discurso de campanha do Campos?
Em primeiro lugar, tomar o cuidado de não fazer promessas que não
teremos condições de cumprir. O Eduardo não vai partir para esse
discurso. E ele também tem preocupação com a questão de que não seja
posto em risco o que deu certo para o país. Ninguém pode esconder que o
FHC foi o responsável pela estabilidade econômica e que a inclusão
social se deveu a um grande esforço do Lula. Mas não podemos ficar só
nisso; é preciso avançar. Vamos mostrar que a máquina está saindo dos
trilhos, sobretudo no aspecto econômico. Todo mundo está enxergando que o
país convive com esse perigo, apesar de eles tentarem pregar que as
coisas estão estabilizadas. A situação já não está mais como antes e
quem for eleito presidente terá dificuldade muito grande para
administrar.
E como será possível criticar o governo Dilma, se o PSB era da base na maior parte do mandato?
O PSB nunca esteve na base simplesmente para ser uma sublegenda do
governo. Todo partido tem um projeto de poder. É evidente que o PSB fez
parte do governo, mas o partido também tem o objetivo de chegar ao
poder. Por isso, saiu no momento em que deveria sair, pois não tinha
mais razão de ficar no governo se temos um candidato a presidente.
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